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GeralMichelangelo: O criador de de grandes obras a partir de um pequeno cinzel
Geral Grafitti 14/10/2021 09:00Michelangelo foi um poeta, escultor, pintor e arquiteto proeminente nascido na cidade de Florença na Itália, sua obra exerceu forte influência tanto no oriente quanto no ocidente.
Ele narrou sua própria história ao biógrafo Ascanio Condivi. Segundo o relato feito, o artista nasceu no dia 6 de março de 1475, e estava destinado às artes que satisfazem os sentidos.
Seus trabalhos mais notórios foram na pintura, escultura, arquitetura e poesia, mas ele também atuou como engenheiro, criando aparatos para transportar grandes obras.
Sua mãe morreu quando ele tinha apenas 6 anos, deixando seu pai Ludovico com 5 filhos pequenos para criar sozinho.
O dinheiro em sua casa sempre foi curto, mas seu pai tinha aspirações por grandeza, ele inventou um falso parentesco com os condes de Canossa, que não fora comprovada, mas que Michelangelo acreditou ser real até sua morte.
Seu pai era aterrorizado pela ideia do filho se dedicar às artes, pois na época, ser artista era uma profissão marginalizada e mal paga. Além disso, os pintores e escultores também eram vistos como hereges, porque pintavam o que queriam, o que nem sempre ia de interesse com os mandamentos e permissões da igreja.
Por medo, ele chegou até mesmo a espancar o filho para que parasse de desenhar, além de destruir os primeiros trabalhos de Michelangelo. Mas apesar da aversão do pai, o pintor persistiu improvisando a sua arte escondido.
Suas primeiras esculturas já demonstravam parte do seu talento extraordinário. Ele acreditava que sua genialidade era algo místico, herdado por direito divino graças a sua linhagem privilegiada.
O início da carreira: Ghirlandaio, Lorenzo e Piero
O primeiro ateliê que o artista trabalhou era do pintor Domenico del Ghirlandaio, com quem aprendeu a moer pigmentos e a criar painéis. Mas ele também criou uma desavença com seu mestre, gostava de reproduzir a arte observando diretamente a natureza, para retratá-la de forma fidedigna. Dado a sua necessidade de observação, Michelangelo não se sentia contente “preso” no ateliê, por isso entrava em frequentes discussões com seu mestre.
Depois de muitas brigas, aos 15 anos ele abandonou o professor. Seu talento foi descoberto por um dos maiores patronos da arte da época, Lorenzo o Magnífico, que governou Florença. Ele se afeiçoou por Michelangelo, quando o viu esculpindo uma escultura metade homem, metade bode (um fauno) e decidiu ser seu patrono.
Lorenzo deu a Michelangelo um salário mensal, um lugar no palácio para dormir e até mesmo um manto de veludo (lembrando que roupas novas eram um privilégio da nobreza na época, pois os tecidos eram tão caros que eram deixados como herança).
Michelangelo era arrogante quanto às críticas que recebia de Ghirlandaio. Mas ao receber críticas do seu patrono sobre o tamanho dos dentes do fauno em sua escultura, teve que quebrá-los para agradar a Lorenzo. Desde então, o escultor acabou se tornando obcecado com a perfeição em suas obras. E se tornou cada vez mais determinado a fazer todos verem que ele era o melhor.
Após a morte do seu patrono, o filho dele, Piero o Fátuo assumiu o poder. Ele fazia pedidos estranhos a Michelangelo, como a construção de “Hércules, o boneco de neve”, um boneco de neve no formato de herói grego Hércules. Michelangelo provavelmente sentia que seu talento estava sendo desperdiçado, mas precisava continuar agradando os desejos de seu mecenas.
Não apenas os pedidos de Piero eram estranhos, mas também a sua forma de governar. Graças a isso acabou deixando Florença a beira de um colapso. Foi quando a igreja decidiu intervir, em 1494, enviando o frade Girolamo Savonarola.
Savonarola e Michelangelo
Savonarola falava sobre o fogo do inferno, e sobre como as culturas pagãs seriam punidas. Condenando em especial as esculturas nuas, ele criou até mesmo uma pira para destruí-las, conhecida como Fogueira das Vaidades. Nela, seus seguidores queimaram pinturas, livros e artigos de luxo.
Esse momento histórico foi importante na arte de Michelangelo, que em parte se sentia atraído pelas palavras de Savonarola, e por outro lado sofria, pois sua arte era completamente inspirada na cultura pagã da Roma Clássica. Confuso, ele decide abandonar sua terra natal e continuar o seu trabalho em outro lugar.
Durante o seu exílio, Michelangelo conseguiu emprego em Bolonha, onde foi contratado para esculpir um anjo para o túmulo de um nobre. Mas assim que Savonarola abandonou Florença, o pintor retornou ao local.
O anjo falsificado
Ele começou a trabalhar em algo grande, que pudesse lhe prover outro mecenas. Criando um Cupido Adormecido, contudo, Michelangelo percebeu que uma obra nova não teria valor por não ser escultor conhecido, então decidiu “envelhecer” a escultura de propósito.
O Cupido Adormecido foi pioneiro em muitos pontos, o primeiro é no rosto da criança, que é um pouco mais velho que os comuns para época. Outro ponto interessante é que a escultura está em movimento, o que também não era comum.
Michelangelo conseguiu vender a escultura, contudo o comprador percebeu que tratava-se de uma fraude devido às características acima citadas, e acabou pagando menos pelo trabalho, e graças a essa fraude, Michelangelo foi convocado pelo cardeal Riario para ir a Roma.
O cardeal percebeu a falsificação, mas também notou a qualidade do trabalho do artista, por isso, resolveu contratá-lo para fazer uma escultura para seu jardim pessoal. Surgia então, Baco o bêbado, uma escultura nua que parecia cambalear. O trabalho foi rejeitado, mas Michelangelo aprendeu algo com a obra: como utilizar o mármore.
O mármore e Maria
Mesmo após o seu fracasso com a obra, Michelangelo recebeu mais uma encomenda da igreja. Um cardeal francês queria uma Pietá em tamanho natural, para colocar em sua casa. Trata-se de uma escultura da Virgem Maria segurando o seu filho morto nos braços, logo após ter que assistir a sua crucificação sem poder defendê-lo.
Ele a retrata de forma pura, pois acreditava que as mulheres virgens conservavam o frescor por muito mais tempo do que aquelas mais liberais. O próprio Michelangelo relatava ter uma esposa incrível “a Arte” com quem tinha os “filhos” (suas obras). O que já bastava para ele, por isso não cedia aos desejos carnais ou se envolvia com mulheres que o fizessem.
Em 1497 ele viajou para Carraca, no noroeste da Itália para procurar o bloco de mármore ideal para sua obra. O transporte desta peça era extremamente complexo, pois envolvia o uso de trenós de madeira para descer com as peças colina abaixo, além disso uma longa viagem de navio era necessária, e foi nessa viagem que os problemas de saúde de Michelangelo começaram a aparecer.
Em 1501, Michelangelo foi contratado novamente pela igreja, desta vez a obra era “O Davi”. O herói bíblico deveria ficar num arcobotante da catedral. O bloco utilizado tinha mais de 5 metros de altura e era 100x mais pesado que um homem.
Corriam boatos de que Michelangelo cometeu um assassinato “em nome da arte”, para obter a expressão ideal que serviria de inspiração para Davi. A obra relata Davi antes da batalha contra Golias, há angústia e medo em seus olhos, e talvez o artista assassinou um homem só para ver de perto como era essa expressão, e conseguir relatá-la de forma fidedigna. A escultura ficou pronta em 1504, depois de dois anos e meio de trabalho.
O grande problema após a obra ficar pronta era como transportá-la até a catedral. Foi então que Michelangelo começou a desenvolver suas primeiras engenharias. Ele construiu um carrinho de madeira, com longos trilhos girantes que deveria ser empurrado por 40 homens. Com isso foi possível transportar a obra em tempo recorde: apenas quatro dias.
O transporte correu de forma tranquila até chegar na entrada da Praça principal, onde havia um arco que poderia danificar a obra. Michelangelo recebeu autorização da igreja para removê-lo e depois reconstruí-lo.
A escultura se tornou um símbolo político muito forte do governo republicano de Florença. Davi também imortalizou Michelangelo, pois se tornou a escultura mais famosa do mundo. A genialidade do artista encantou até mesmo o Papa Júlio II, e em 1505 o pontífice o chamou para uma missão: construir uma tumba monumental para o descanso da santidade.
Júlio II era tão arrogante quanto Michelangelo, por isso, os contratos estabelecidos por ambos eram muito confusos, e os desejos do papa sempre mudavam quando a obra estava quase pronta, tanto que do projeto inicial restou apenas o Moisés. A obra só foi finalizada após a morte de Júlio II, em 1513. Durante esse longo trabalho Michelangelo também criou uma das obras que viria a se tornar parte do seu grandioso legado: a decoração da Capela Sistina.
Nela Michelangelo retrata todo o antigo testamento em imagens dramáticas. A pintura em afresco também se tornou uma das principais obras da humanidade. Graças a ela, o pintor recebeu outros trabalhos da igreja para decorar capelas e fachadas, tanto que em seus últimos anos de vida Michelangelo passou a exercer muito mais a função de arquiteto do que qualquer outra, melhorando também suas habilidades como engenheiro.
Últimos trabalhos e morte
A produção do final da sua vida é marcada por uma união mística com Jesus, e foi totalmente voltada para cenas da paixão de Cristo. Em 18 de fevereiro de 1564, Michelangelo faleceu devido a complicações geradas pela sua falta de higiene. Como último pedido, ele desejou que seu corpo retornasse à Florença.